sábado, 19 de maio de 2007

Tia Danielle

Tia Danielle é boa inquilina. Usa saia de lã q ela mesma teceu em noites frias de Curitiba, tomando chá inglês com biscoitos amanteigados na companhia de três gatos, um deles cego de um olho, conseqüência de uma peleja hormonal, coisa do passado, agora q os dias são doces sonhos regados a leite integral. Tia Danielle tem longos cabelos brancos de chantilly, nunca se casou, nem pode adoçar a vida de netos de joelhos roliços e andar vacilante..., não lhe fazem falta, ela é feliz assim, lendo Drumond e viajando no túnel do tempo...acesso irrestrito q ela mesma descobriu, tantas horas vagando sem rumo pela labirintite lhe deram essa capacidade invejável. Tia Danielle é suave e perfeita em sua matéria, delicada como o vou-la van de creme pasteleiro q faz, inundando esse gueto sujo à beira do caos com o autêntico cheiro a baunilha francesa.... Não gosta de geléia de pimenta, nem nunca provou a cachaça, prefere compotas de mamão verde e manhãs frias e ensolaradas de 1800 pés de altitude. Ouve gargalhadas e garrafas quebradas da vizinhança com um velho sorriso nos lábios de rosa carmim e adormece tranqüila quando tudo é confuso....Uma vez em tantos dias, prepara um banquete, importa trufas negras pela internet, ratatouille, magret ao molho de figo, terroir para beber e morangos silvestres em um primor de jalousie...ela mesma e seus três gatos, um deles com o olho esquerdo furado, todos com fita vermelha no pescoço felpudo...Tia Danielle tem seus pecados ocultos, miradas negras, absolutas, ri alto em noites assim, impera em seu vestido inesquecível de babados e rococós infindáveis..., piano de cravo, cravo de cheiro, o cravo e rosa desidratados, flagrados em páginas amarelas de um diário, capa de couro tratado ...
Tia Danielle não tem pressa nem apuro...

terça-feira, 15 de maio de 2007

ZERO

Não questione minha superficialidade!...não há nada debaixo dessa máscara de papel machê... Não me olhe assim, sou apenas um universo ambulante, indolente, entregue à doce e ensolarada matrix ... não espere coerência, nem profundezas abissais, não vc, q com um movimento da lamina pode violar minha integridade revelando a tragédia e o patético da vida... Não verás lampejos de inteligência, nem terás olhares cúmplices, sou unhas roídas, hemoglobinas flutuantes em fluxos Opositivo e uma mente perdida em nuvens de algodão doce ...pura glicose.
Eu não quero nem saber se vão gostar e o q vão dizer, eu quero gritar teu nome no meio das ruas de Ouro Preto, de pura alegria ingênua, febril...não sou nada mais q um amontoado de peptídeos viciados em prazer! Mas não espere altruísmo, não serei compreensiva, nem pedirei perdão...meus inquilinos só querem diversão e fazem da minha cabeça um grande salão sem lei. Os anos passam meu bem, e continuo a brincar de ser Deus, vislumbrando o nada absoluto na ponta dos pés, a beira do abismo, ...pq é excitante sentir o vento cortante no rosto, pensar q...um passo em falso, a um passo a frente, cuidado!...nada mais pode me trazer de volta...nem usurpar a paz conquistada, o absolutismo envolvente do nada...nem as lembranças, nem o passado, é só o presente, o fluxo sanguineo e batimentos cardíacos, tunshi, tunshi, na batida do trance...no meio da pista, luzes e escuridão, e o relógio e as horas..., quem se importa com eles?..Não me olhe assim, já não me interesa saber quem sou, apenas não me olhe assim nem questione minha superficialidade....não podes ver a realidade? índigo blue jeans, carne e ossos de isopor....